Geopark

História e Cultura

A longa história de ocupação humana confere a este território um inestimável valor cultural. Historicamente ligada às características geomorfológicas e climatológicas da Estrela, a atividade humana moldou a paisagem, criando um mosaico cultural identitário. A ocupação humana possui na Estrela registos desde os 7 mil anos BP (antes do presente), no sopé da montanha, tendo-se posteriormente expandido até altitudes superiores. Os vestígios arqueológicos mais antigos datam do Neolítico tardio e do Calcolítico. No entanto, a maioria dos vestígios são caracterizados pela presença de estruturas megalíticas, havendo desta época alguns registos de movimentos transumantes. A história da relação entre as comunidades e a Montanha é o legado ancestral comum que resultou na forte identidade da população da Estrela, secularmente ligada à pastorícia.

Esta montanha seria ocupada sazonalmente, durante o Verão e inícios do Outono, por uma população pastoril, podendo eventualmente praticar uma cerealicultura incipiente, ou a farinação de frutos selvagens, como a bolota. Os diversos achados arqueológicos confirmam as conclusões obtidas nos perfis polínicos obtidos nas turfeiras de altitude da serra da Estrela, que indicam uma primeira degradação do coberto vegetal nos finais do Neolítico.

Os mais antigos vestígios da ocupação na região parecem corresponder ao início do fenómeno megalítico, no que poderíamos considerar um Neolítico Médio/Final. Os monumentos megalíticos eram sepulturas coletivas, construídas com grandes monólitos de pedra (esteios), com os quais se constituíam câmaras simples ou com um corredor anexo. (Exemplos: Anta de Rio Torto, Orca de Cortiçô, Dólmen de Matança, entre tantos outros).

O período Calcolítico caracteriza-se por uma intensificação das relações sociais e económicas, pelo crescimento e desenvolvimento de contactos a longa distância, por novas atitudes face à prática do poder traduzidas em sociedades em estado embrionário de diferenciação e hierarquização social. Estas novas sociedades, cujo grau de complexidade pode ser bastante variado, eram portadoras de uma utensilagem material e tecnológica mais evoluída. Contudo, de uma maneira geral, os povoados assumem um papel mais central na vida material e espiritual daquelas populações.

A Idade do Bronze caracterizou-se, globalmente, pela afirmação de unidades sociais e políticas, ligadas a um território, com uma organização interna centralizada, onde o poder se concentra numa elite e é perpetuado através da hereditariedade. Esta nova realidade traduz-se globalmente na adoção de novas formas de atitude para com os mortos, novas utensilagens (formas cerâmicas inovadoras e novas técnicas metalúrgicas, com a produção de objetos em cobre e bronze), desenvolvimento da atividade artístico-simbólica, novas estratégias de povoamento, etc. (exemplo: Fraga da Pena).

Este território foi ocupado por diversos povos, tendo sido progressivamente romanizado, observando-se ainda hoje vestígios da importante estrada que ligaria a Guarda a Idanha-a-Velha, e seguia até Viseu, atravessando o território. Esta estrada terá tido um papel particularmente relevante na organização do povoamento rural durante o período Romano. A ocupação romana manter-se-ia até ao início do século V, altura em que Suevos, Vândalos e Alanos se instalam, pondo fim ao domínio Romano.

A Estrela é mais do que apenas uma Montanha, a sua geodiversidade, o clima, a configuração geográfica e biogeográfica, e a profunda relação com o povoamento humano, originaram mosaicos de ecossistemas complexos seminaturais, e um notável património cultural, tradições, produtos gastronómicos endógenos e modos de vida adaptados à Montanha, que são os alicerces de uma abrangente estratégia de desenvolvimento sustentável.